sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Pausa para um milkshake




Ana correu em direção de si mesma.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Em Seatle



A carta do tarôt que abre essa próxima narrativa é a carta um - "O mago".
Vocês já já vão entender o porque dessa carta.

Eu estava há um ano fora de casa. Sem ver os meus pais, meus amigos de outrora.
Agora, eu era mais uma das crianças marginalizadas e socialmente desprezadas pela sociedade.
Durante esse ano fora de casa, aprendi muitos metódos... ilícitos de se sobreviver.
Fiz amigos, formamos um "grupinho".
Nos ajudávamos, sempre compartilhávamos a comida.
Porém, eu... eu sabia fazer umas coisas diferentes.
Foi sem querer que eu acabei descobrindo como multiplicar o dinheiro.
Assim que descobri isso, parei de furtar.
Nós brincávamos muito de bolinha de gude.
Também percebi que, as vezes, as minhas bolinhas de gude ficavam "mais pesadas que o normal".
Não conseguia explicar isso. As vezes, eu usava as bolinhas para me defender.

Seria o meu primeiro aniversário fora de casa, sem meus pais.
Não tinha mais voltado a minha cidade, nem eles tinham me procurado.
Se é que estavam vivos.
Tudo estava caótico, descongruente.
O mundo... havia mudado.
E meus olhos podiam ver.

No dia do meu aniversário, senti uma coisa estranha - umas ondas - pelo ar.
Fiquei curiosa, resolvi segui-la.
Fui levada até um teatro.

O que está prestes a acontecer agora, é apenas comparável ao nascimento de uma estrela ou a construção de uma galáxia.
Estava muito frio aqui fora, e havia uma festa lá dentro.
Então, eu me sento na calçada, tentando entender o que eu havia seguido, de fato.
Nisso, sai uma mulher de dentro da festa, nem velha nem nova.

Ela olhou pra mim e falou "Oi, qual o seu nome? Você está com fome?"
Eu olhei para ela e falei "Meu nome é Ana e hoje é o meu aniversário, mas, isso é uma pergunta que se faça para alguém que mora no meio da rua?"
Ela - Sim ou não?
Eu, um tanto disconfiada - Sim.
Ela - Venha comigo!
Ela disse "Está muito frio aqui fora, porque você não entra?"
Bem, tava fazendo frio mesmo, e já que ela tava sendo tão legal, resolvi entrar.
Havia muita gente diferente lá dentro. Eles riam, e brindavam, muito alegres.
Então, de súbito, ela me apresentou "Pessoal! Essa é a Ana e hoje é o aniversário dela!".
Meu Deus, que vergonha!
Todos olharam para mim, e brindaram "Viva a Ana" e me abraçaram e me beijaram, me deram presentes - nesse instante, algumas bolinhas de gude que eu escondera entre os dedos caíram no chão e fizeram um grande barulho, pois, elas estavam mais pesadas porque eu poderia precisar delas - umas correntes de ouro, anéis, uma capa de um tecido muito bonito, etc. Foi uma coisa bem estranha.

Então, eu o conheci.
Eu vi o homem que viria a ser um de meus mentores e meu amigo.
Seu nome era Rudolf. Era um senhor engraçado - como todo avô deve ser.

Ele veio e se aproximou de mim e disse "Parabéns!".
Eu apenas dei um sorriso amarelo.
"Você tem bolinhas de gude muito interessantes", disse ele por fim.

Minha espinha gelou naquele momento.
Eu o olhei profundamente e ele disse:

"Você gosta de mágica? Suba comigo que eu lhe mostro! Eu sou mágico, sabia?" - ele disse.
Mas do que nunca eu segurei minhas bolinhas de gude entre os dedos e aprumei o badoque no bolso.
Aquele senhor não era comum, assim como aquele lugar e todas aquelas outras pessoas.
Eu apenas podia sentir.
Eu o acompanhei, subimos umas escadas e fomos para um local que parecia um quarto.
Havia uma poltrona, ele sentou-se nela.
Por fim, ele segurava uma bengala e segurava uma cartola. Olhando para mim, ele fez aparecer um coelho.
Cara, eu não acreditei naquilo. Tinha que ser um truque! Eu fiquei mais intrigada ainda.
"Você pode tirar qualquer coisa daí?" - eu perguntei.
"Oh, sim, você está com fome." - Disse ele, tirando um sanduíche de dentro da cartola.
Vocês são capazes de imaginar a minnha cara nesse momento, né?
Ele me deu o sanduíche, e eu o examinei muito bem antes de colocá-lo na boca.
"Você gostaria de trabalhar no meu teatro? Temos uma vaga para um aprendiz..." - disse ele sorrindo.
"Só uma? Você não teria pelo menos uma três?" - eu perguntei meio de boca cheia.
"Ah, para os seus amiguinhos. Sim, sim. Avise a eles que todos começarão a trabalhar amanhã."
""Está ficando muito tarde, é melhor você ir agora."

"Estarei esperando você aqui pela manhã."

*  *  *

A partida de casa






Sim, a carta zero do tarôt - "o louco"- é perfeito para narrar a minha partida de casa.
Depois do supermercado, voltamos pra casa, jantamos, fora tudo normal.
Antes de dormir, meu pai avisa: "Iremos arrumar o sotão e o porão amanhã. Acorde disposta, viu?" e deu aquela risadinha de "haha, vai ter que trabalhar amanhã!", eu falei "oookeeeeiiii.". O que eu podia fazer?


Bem, tomei banho e quando voltei, o Kiwi já tava todo esparramando na minha cama.
Eu me deitei, ele se juntou de mim.
"Boa noite, Kiwi."
"Miau."


De manhã, acordei relativamente cedo, umas 8 horas.
Meus pais já acordados, o café já na mesa. Descemos eu e o Kiwi, comemos e começamos a arrumação.
Estava tudo muito empoeirado, tivemos que varrer e jogar muitas coisas velhas fora.
De súbito, meu pai fala: "Ana, vá ao sotão e pegue tal coisa."
Não lembro bem o que era, porque o que vem a seguir é muito aterrorizante.


De repente, escuto uma discussão vinda lá de baixo, uns homens estranhos, de terno, estão discutindo com minha mãe e com o meu pai.
Eles dois pareciam calmos, mas, os outros homens estavam revirando a casa e discutindo muito exaltados.
Eu senti medo, eu quis descer e ficar com os meus pais.
Então, quando eu estou descendo, vejo minha mãe olhando para mim lá de baixo, ela está com uma expressão de "não desça e vá embora."
Bem, é isso que eu pareço escutar quando olho pra ela.
Kiwi arranha minha perna. Eu olho pra ele. É como se ele dissesse - "me siga."- eu olho novamente para minha mãe e aí já é tarde demais. Um dos homens me vê e fala "lá em cima". Eu ainda vejo de relance o rosto dos meus pais a olharem pra mim como a expressão "corra!".
Kiwi mia alto, eu o sigo.
Entramos no sotão e saímos por umas das janelas e ficamos no telhado, então, Kiwi me mostra como descer, pela parte de trás da casa e eu saio correndo, seguindo-o, sem entender merda nenhuma.


Eu nunca corri tanto na minha vida, eu corria e tinha vontade de chorar, queria ver os meus pais, queria voltar para minha casa. Mas, a medida que eu segui o Kiwi, eu percebia que a minha vida nunca mais voltaria ao que era antes.


Peguei um ônibus, saí do estado.
Fiz um pequeno sorteio com o Kiwi, ele escolheu o estado de Seatle.


Dei adeus.

* * *

A chegada em casa

No avião, dormi a maior parte do tempo. Meus país pareciam tranquilos e felizes, parecia que nada de ruim havia acontecido. Porque só tínhamos planejado de voltar semanas depois, e porque eles achavam que eu estava doente (é o que eu acho), eles tiveram que antecipar a volta ao Estados Unidos. Bem, quando eu cheguei em casa, eu tive uma surpresa.
Lá, deitado no batente de minha casa, havia um gato preto. Achei até que estavam filmando "Bruxas de Salém" lá perto de casa e que o gato tinha saído do set de filmagem, porque o gato era muito bem cuidado, o pelo lustroso, essas frescuras de gato-ator.
Porém, quando o gato se levanta e olha pra mim... os olhos dele eram iguais aos do anjo da igreja!
Caralho.
Pelo menos dessa vez eu não me senti mal nem nada. Só fiquei muito intrigada com tudo aquilo.
Perguntei a minha mãe se eu poderia ficar com o gato. Ela disse "Sim" e "Tome conta direitinho dele!".
De primeira, eu fiquei muito desconfiada de pegar nele, e ele também, parecia que estava me estudando.
Bem, eu tive uma ideia!
Corri lá dentro de casa, apanhei um dinheiro e falei pro gato: "Olha, a gente vai ter que sair pra comer, porque meus pais não deixaram comida na geladeira por causa da viagem. Eles tão se arrumando pra ir fazer feira, e, eu achei que nós poderíamos ir e comer qualquer coisa por lá. Eu te pago um leite."
HAHUAHAHAHAUHAUAHAHUAHUAHUAHUAHAUHAUAHAU.


Ele veio e falou "miaau".
Eu subi no carro e ele pulou e veio no meu colo.
Passei o caminho todo pensando em um nome pra ele.
Assim que chegamos no supermercado, ouvimos: "Estamos na estação de kiwis." e "Animais não podem entrar em supermercados, esperem aqui fora."







Err, senhor gato.
"Miau?"
Se me permite, vou te chamar de Kiwi.
O olho dele era o céu estrelado noturno, me adimira ninguém nunca ter percebido isso ou, como depois vim a saber, só eu podia vê-los assim.
"Miaau."
"Ah é, esse já era o seu nome, Kiwi?"


"Legal."
"Miau."


* * *

Como estraguei as férias de verão

Eu acho que minha vida mudou mais depois que entrei para a Cabala do que quando eu despertara. Simplesmente, moravamos eu, minha mãe e meu pai juntos, tudo dentro da normalidade esperada pelos tecnomaus. Meu pai é francês, minha mãe americana. Eu era, o que se espera da normalidade, uma mistura dos dois. Bem, mas agora vou contar como estraguei as férias de verão.
Eu tinha 14 anos na época (hoje tenho 15, rsrsss). Como presente de férias, nós tínhamos ido à terra natal do meu pai, a França. Lá, fomos na "Cathédrale Notre-Dame-de-Strasbourg". Se você já viu aquele filme da Disney, bem, você sabe de onde eu estou falando.

Agora, a parte crítica do passeio:


Cara, quando eu entrei lá dentro, me senti muito esquisita. Minha cabeça doía, me senti como se alguma coisa tivesse me oprimindo, eu quis vomitar mas não consegui, todos aqueles vitrais, aquelas cores, as imagens dos santos, sabe, era como se eu pudesse sentir a fé das milhares de pessoas que acreditavam naquilo, e haviam as estátuas... e houve uma em especial.
Uma estátua destoante das demais, de mármore completamente branco. Era um anjo. Um anjo com asas enormes e ele estava olhando para mim.
Sim, eu disse isso mesmo. Envolta desse anjo, as cores dos vitrais giravam, e os olhos dele eram... a própria abóbada celeste. Eu quase morri de medo, eu achei que estava afundando, alguém devia ter me drogado ou algo do tipo. Ele veio em direção a mim, eu fiquei parada, parada como se a estátua fosse eu. Ele se aproximou, tocou com um dedo na minha testa e eu vomitei tudo o que tinha comido e que iria comer pelos próximos mil anos.

Bem, eu desmaiei e não sei o que houve lá.
Acordei no hotel, as coisas todas arrumadas e minha mãe me abraçando dizendo:
- Tudo bem, já estamos indo pra casa. -- num tom de voz alegre e calmo.

Graças ao bom Deus, meus pais não me perguntaram nada ou ficaram irritados comigo.

* * *