terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Em Seatle



A carta do tarôt que abre essa próxima narrativa é a carta um - "O mago".
Vocês já já vão entender o porque dessa carta.

Eu estava há um ano fora de casa. Sem ver os meus pais, meus amigos de outrora.
Agora, eu era mais uma das crianças marginalizadas e socialmente desprezadas pela sociedade.
Durante esse ano fora de casa, aprendi muitos metódos... ilícitos de se sobreviver.
Fiz amigos, formamos um "grupinho".
Nos ajudávamos, sempre compartilhávamos a comida.
Porém, eu... eu sabia fazer umas coisas diferentes.
Foi sem querer que eu acabei descobrindo como multiplicar o dinheiro.
Assim que descobri isso, parei de furtar.
Nós brincávamos muito de bolinha de gude.
Também percebi que, as vezes, as minhas bolinhas de gude ficavam "mais pesadas que o normal".
Não conseguia explicar isso. As vezes, eu usava as bolinhas para me defender.

Seria o meu primeiro aniversário fora de casa, sem meus pais.
Não tinha mais voltado a minha cidade, nem eles tinham me procurado.
Se é que estavam vivos.
Tudo estava caótico, descongruente.
O mundo... havia mudado.
E meus olhos podiam ver.

No dia do meu aniversário, senti uma coisa estranha - umas ondas - pelo ar.
Fiquei curiosa, resolvi segui-la.
Fui levada até um teatro.

O que está prestes a acontecer agora, é apenas comparável ao nascimento de uma estrela ou a construção de uma galáxia.
Estava muito frio aqui fora, e havia uma festa lá dentro.
Então, eu me sento na calçada, tentando entender o que eu havia seguido, de fato.
Nisso, sai uma mulher de dentro da festa, nem velha nem nova.

Ela olhou pra mim e falou "Oi, qual o seu nome? Você está com fome?"
Eu olhei para ela e falei "Meu nome é Ana e hoje é o meu aniversário, mas, isso é uma pergunta que se faça para alguém que mora no meio da rua?"
Ela - Sim ou não?
Eu, um tanto disconfiada - Sim.
Ela - Venha comigo!
Ela disse "Está muito frio aqui fora, porque você não entra?"
Bem, tava fazendo frio mesmo, e já que ela tava sendo tão legal, resolvi entrar.
Havia muita gente diferente lá dentro. Eles riam, e brindavam, muito alegres.
Então, de súbito, ela me apresentou "Pessoal! Essa é a Ana e hoje é o aniversário dela!".
Meu Deus, que vergonha!
Todos olharam para mim, e brindaram "Viva a Ana" e me abraçaram e me beijaram, me deram presentes - nesse instante, algumas bolinhas de gude que eu escondera entre os dedos caíram no chão e fizeram um grande barulho, pois, elas estavam mais pesadas porque eu poderia precisar delas - umas correntes de ouro, anéis, uma capa de um tecido muito bonito, etc. Foi uma coisa bem estranha.

Então, eu o conheci.
Eu vi o homem que viria a ser um de meus mentores e meu amigo.
Seu nome era Rudolf. Era um senhor engraçado - como todo avô deve ser.

Ele veio e se aproximou de mim e disse "Parabéns!".
Eu apenas dei um sorriso amarelo.
"Você tem bolinhas de gude muito interessantes", disse ele por fim.

Minha espinha gelou naquele momento.
Eu o olhei profundamente e ele disse:

"Você gosta de mágica? Suba comigo que eu lhe mostro! Eu sou mágico, sabia?" - ele disse.
Mas do que nunca eu segurei minhas bolinhas de gude entre os dedos e aprumei o badoque no bolso.
Aquele senhor não era comum, assim como aquele lugar e todas aquelas outras pessoas.
Eu apenas podia sentir.
Eu o acompanhei, subimos umas escadas e fomos para um local que parecia um quarto.
Havia uma poltrona, ele sentou-se nela.
Por fim, ele segurava uma bengala e segurava uma cartola. Olhando para mim, ele fez aparecer um coelho.
Cara, eu não acreditei naquilo. Tinha que ser um truque! Eu fiquei mais intrigada ainda.
"Você pode tirar qualquer coisa daí?" - eu perguntei.
"Oh, sim, você está com fome." - Disse ele, tirando um sanduíche de dentro da cartola.
Vocês são capazes de imaginar a minnha cara nesse momento, né?
Ele me deu o sanduíche, e eu o examinei muito bem antes de colocá-lo na boca.
"Você gostaria de trabalhar no meu teatro? Temos uma vaga para um aprendiz..." - disse ele sorrindo.
"Só uma? Você não teria pelo menos uma três?" - eu perguntei meio de boca cheia.
"Ah, para os seus amiguinhos. Sim, sim. Avise a eles que todos começarão a trabalhar amanhã."
""Está ficando muito tarde, é melhor você ir agora."

"Estarei esperando você aqui pela manhã."

*  *  *

Um comentário:

Dragões da Cidade Esmeralda disse...

Pow...ficou igual. Espero ansioso para ver os próximos capítulos da vida de Ana. xD